quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Bolsonaro é filho do casamento entre Lava Jato e Globo

 “Tudo aquilo que se apresenta como novidade é uma simples máscara velha de um jogo antigo”.

Bolsonaro é filho do casamento entre Lava Jato e Globo

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Jessé Souza


  
Lançamento de livro, palestra e curso sobre a formação da sociedade brasileira. Em pouco mais de 24 horas, o sociólogo Jessé Souza fez da chamada “República de Curitiba” um espaço de debates sobre o Poder Judiciário e a operação Lava Jato.

A passagem do intelectual potiguar pela capital paranaense, na semana passada, foi simbólica. Não só porque Curitiba é a cidade-sede da Lava Jato, mas porque a palestra aconteceu no campus Santos Andrade da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde o juiz Sérgio Moro trabalha há dez anos como professor de Direito.

O curso foi ministrado na Universidade Positivo (UP), também no entorno da praça Santos Andrade, em parceria com Luiz Rocha, presidente da comissão de direito do consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB/PR).

Jessé Souza é mestre e doutor em Sociologia, pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e presidiu o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) entre 2015 e 2016. Com pós-doutorado em Psicanálise e Filosofia pela Nova Escola de Pesquisa Social, nos Estados Unidos, ele tornou-se livre docente na Universidade de Flensburg, também na Alemanha, em 2006.

A reportagem do Brasil de Fato Paraná acompanhou o bate-papo que sucedeu o lançamento da obra A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato [Leya, 2017], no último dia 23, e apresenta uma síntese das teses defendidas pelo autor nos quatro capítulos do livro.

Histórico


A revolução de 1930, comandada por Getúlio Vargas, é considerada um divisor de águas na história brasileira, porque coloca o Estado pela primeira vez na posição de protagonista do desenvolvimento do país.

Os anos seguintes foram marcados pela ampliação dos incentivos governamentais à pesquisa e à industrialização, por políticas públicas que permitiriam a geração de empregos e pela assinatura do Decreto-Lei nº 5.452, conhecido como a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

A elite paulistana, derrotada em 1930, jamais engoliu que Vargas fosse o presidente, e passou a disseminar no Brasil ideias antigetulistas e anti-estatais. Logo, a classe média urbana comprou esse discurso, motivada por uma preocupação em “se distinguir dos de baixo” – mentalidade que remete a uma tradição escravocrata.

Jessé Souza interpreta que não é apenas a renda mensal que define quem é “ralé” e quem é de classe média. Passam a ser importantes, para essa diferenciação, o consumo de certos bens culturais, que demonstrem “sensibilidade e bom gosto”, a valorização do trabalho intelectual sobre o trabalho manual e a crença na meritocracia e na moralidade.

“A suposta superioridade moral da classe média dá a sua clientela tudo aquilo que ela mais deseja: o sentimento de representarem o melhor da sociedade. (…) [A classe média] tem algo que ninguém tem, nem os ricos, que é a certeza de sua perfeição moral”, descreve o autor no penúltimo capítulo do livro. Nesse fragmento, aparecem algumas pistas para entender as condições de existência da Lava Jato no século XXI.


Temos uma sociedade desigual e mal informada, com pouquíssima reflexão sobre si mesma
Sob esse ponto de vista, a operação representa uma continuidade, e não um rompimento na história das elites. Jessé Souza afirma que a escravidão – que não foi herdada de Portugal – engloba todas as instituições da sociedade brasileira, e baseia “desde o ano zero” as concepções de economia, política e justiça que hoje são defendidas pela classe média.

Patrimonialismo

A ampliação dos direitos trabalhistas e a inclusão dos mais pobres na esfera do consumo são encaradas como ameaça no Brasil moderno. Como antídoto ao “intervencionismo estatal”, as classes dominantes apostam no mercado – em oposição ao Estado – como caminho para o crescimento econômico e para uma pretensa moralização do país.

No senso comum, o Estado brasileiro passa a ser visto como patrimonialista, ou seja, incapaz de distinguir os limites entre o público e o privado, porque reproduz o “mito da brasilidade” – que convém aos donos dos bancos e das grandes empresas.

Segundo esse mito, a corrupção e o “jeitinho brasileiro” aparecem em todas as esferas do Estado, desde os pequenos funcionários públicos até os políticos do alto escalão. A sonegação de impostos, a formação de carteis e a superexploração do trabalho, praticadas pelas grandes empresas, são deixadas de lado no debate sobre a corrupção.

Populismo

A mesma palavra que as classes dominantes usaram para demonizar as políticas de interesse dos mais pobres, a partir dos governos de Getúlio Vargas, voltou a ser reproduzida quando Lula (PT) assumiu a Presidência da República, em 2003: populismo.

Vendeu-se, então, a ideia de que a “ralé brasileira”, por não ter instrução, acaba enganada e corrompida por políticos carismáticos – enquanto a classe média é vista como consciente e imune a qualquer forma de manipulação.

Para Jessé Souza, essa aplicação do termo populismo é preconceituosa e equivocada. Afinal, a própria classe média, em capítulos-chave da história política brasileira, posicionou-se contra seus próprios interesses, estimulada pela Rede Globo e pelos demais meios de comunicação empresariais, que representam o capital financeiro.

O exemplo mais recente, segundo o autor, foram as manifestações que pediam o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), sob o pretexto de “combater à corrupção”. Em poucos meses, a mesma classe que comemorou o golpe silenciou diante de uma série de escândalos no governo Michel Temer (PMDB).

“Nós temos uma sociedade desigual, mal informada, com pouquíssima reflexão sobre si mesma, e que é sempre presa das mesmas armadilhas”, declarou o intelectual potiguar durante a palestra, ao analisar as motivações do golpe de 2016.

Síntese

O uso mal-intencionado do termo populismo, somado à ideia de que o Estado – e nunca o mercado – é um antro de corrupção, abriu espaço para que a os pobres fossem vistos como desprezíveis, senão responsáveis pela própria miséria. Jessé Souza sugere, então, que o avanço da Lava Jato foi legitimado por uma elite colonizada, que conseguiu apoio da classe média para enfrentar os avanços de todo e qualquer governo que se proponha a reduzir privilégios: “A Lava Jato criminalizou a bandeira da igualdade social”.

O adjetivo “colonizada”, nesse caso, diz respeito à entrega do petróleo da camada pré-sal ao capital financeiro internacional – um ataque à soberania nacional estimulado, em grande medida, pelas denúncias de corrupção no âmbito da Petrobras. “A Lava Jato expressa o que há de pior na elite brasileira, e isso está começando a ficar óbvio. Daqui a cinco ou dez anos, ela vai ser conhecida como a maior vergonha nacional”, antecipa o sociólogo.

Perspectivas


Não existe, segundo Jessé Souza, nenhuma possibilidade de surgir um movimento transformação social, que favoreça a maioria da população, a partir do ideal de combate à corrupção propagado pela Lava Jato: “Tudo aquilo que se apresenta como novidade é uma simples máscara velha de um jogo antigo”.

O mesmo vale para as eleições do ano que vem. O sociólogo interpreta que o Poder Judiciário e a mídia convenceram a classe média da necessidade de fazer uma “limpeza social”, o que banalizou os discursos de violência e segregação.

Os políticos que ganharam projeção nos últimos quatro anos, e que pretendem disputar a Presidência em 2018, refletem essa tendência: “Bolsonaro é filho legítimo do casamento entre a Lava Jato e a Rede Globo”, afirmou Jessé Souza, ao ser questionado por um dos espectadores sobre as alternativas eleitorais.


 Fonte: Brasil de Fato

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Vídeo: Jandira Feghali fala sobre a importância da revolução russa na história da luta anti imperialista



Jandira Feghali fala sobre a importância da revolução russa na história da luta anti imperialista



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Carlos Maia
Secretario de Agitação e Propaganda
do Partido Comunista do Brasil/ Curitiba-Pr





terça-feira, 21 de novembro de 2017

Manuela D'Ávila diz que, se chegar à Presidência, vai propor revogação da reforma trabalhista


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Do Jornal (golpista) Estadão: No discurso, a deputada defendeu uma nova política de juros, câmbio e inflação voltadas para o desenvolvimento do País, e não dos interesses do rebatismo. Também pregou uma nova política industrial de substituição de importações, principalmente nos setores do petróleo, gás, químico e até do agronegócio. “Devemos pensar em um grande plano de obras públicas nas áreas de infraestrutura e morado”, acrescentou.

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,manuela-davila-diz-que-se-chegar-a-presidencia-vai-propor-revogacao-da-reforma-trabalhista,70002088558
LULA
A deputada estadual rechaçou ser candidata a vice-presidente em uma eventual chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2018. Segundo ela, ninguém lança candidatura a presidente da República para ser vice.
“Ninguém se lança candidato ou o partido não lança candidato à Presidência para ser vice. Lançamos candidatura para eu ser candidata a presidente da República”, declarou Manuela.
Manuela disse que sua candidatura foi lançada partindo do pressuposto que Lula será candidato em 2018, mesmo após o petista ter sido condenado pelo juiz Sério Moro no âmbito da Operação Lava Jato. “Essa é a terceira vez que o PC do B lança uma pré-candidatura. Então, a prova de que nossas candidaturas são colocadas a partir dos problemas do Brasil”.
A parlamentar disse que sua candidatura busca discutir soluções para o País sair da crise. Ela ressaltou que, quando dirigentes do partido falam em uma frente ampla para as eleições, estão querendo propor apenas em debate sobre essas soluções e não só com partidos de esquerda, mas de “todos os setores da sociedade”.
Evitando citar pré-candidatos de outras legendas, Manuela criticou “profetas do ódio” que se apresentam como candidatos. “As pessoas vão querer propostas e não teclas agravam a crise”, disse. Para ela, quando os debates eleitorais começarem a acontecer, a tendência é de “derretimento” dessas candidaturas.
Em discurso antes de Manuela, a presidente nacional do PC do B, deputada federal Luciana Santos (PE), defendeu a candidatura própria do partido em 2018, mas fez questão de fazer afagos ao PT. Ao mesmo tempo em que disse que sua legenda “entrou para valer” nas eleições do próximo ano, Luciana defendeu a possibilidade de Lula ser candidato ao Palácio do Planalto. Para a dirigente, a exclusão do petista da disputa do próximo ano “seria a consolidação do golpe”.
“Lula será amigo do PC do B, assim como também Ciro”, declarou Luciana, em referência ao ex-ministro da Fazenda e da Integração Nacional Ciro Gomes (CE), que já se lançou como pré-candidato pelo PDT a presidente da República no próximo ano. Ciro é esperado em ato político que acontecerá neste sábado durante o Congresso dos comunistas. “O PC do B não será obstáculo para a unidade”, acrescentou Luciana.
Em seu discurso, a dirigente fez críticas à gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, da qual o PC do B participou. Na avaliação de Luciana, o governo Dilma errou ao “subestimar” a questão nacional e ao não fazer as reformas necessárias para alterar a superestrutura do Estado brasileiro, entre elas, citou: a reforma política, dos meios de comunicação e tributária. “Ousamos pouco na política cambial”, acrescentou, ressaltando que esse erro prejudicou a indústria nacional.
A presidente do PC do B defendeu que o partido não deve se guiar pelo “saudosismo” nem pelo “autoflagelo” em relação aos erros cometidos pelos governos do PT. “Devemos beber na fonte desse legado”, disse. “O PC do B buscará protagonismo nesta disputa”, acrescentou a dirigente. Para ela, a sigla deve aproveitar a pré-candidatura de Manuela para aumentar as filiações ao partido.

Carlos Maia
Secretario de Agitação e Propaganda
do Partido Comunista do Brasil/ Curitiba-Pr



China comunista suposta não comunista




Apesar do que diga o império ocidental sobre a democracia na China, o "comunismo"está funcionando muito bem na sociedade chinesa. O artigo discute como os avanços socioeconômicos e geopolíticos da China desde 1949 podem ser atribuídos à exclusiva versão chinesa de democracia.
JEFF J. BROWN
PUBLICADO EM 16.10.2017
dO SITE http://www.grabois.org.br/portal/artigos/153919/2017-10-16/china-comunista-suposta-nao-comunista

Em meados da década dos 1930s, a China estava dividida por quatro forças que competiam entre elas. Uma, o Exército Vermelho comunista, comandado por Mao Zedong. Outra, os fascistas japoneses e seu Exército Imperial. Uma terceira, os Nacionalistas Guomindang, abreviadamente “KMT” (ing.), e comandados por Chiang Kai-Shek. A quarta força eram todos os colonialistas – imperialistas, claro, que se autopromoviam com o rótulo pretensioso de “Grandes Potências”.
As coisas não estavam saindo conforme os planos do império ocidental. Apoiavam custasse o que custasse Chiang Kai-Shek (que adorava ser chamado de “Generalíssimo”), que queriam ver como líder da China pós-guerra. O plano deles era instalar Chiang como fantoche-chefe na China pós-guerra, à moda do ditador de Cuba, Fulgencio Batista, sob a conhecida falsa bandeira de “democracia ocidental”. Mas a causa ia-se mostrando cada dia mais sem esperanças. 
O Generalíssimo comandava suas forças mais ou menos como o gen. George Mclland de Abraham Lincoln, praticamente sempre escondido nas barracas, retirando-se quando o inimigo aparecesse. Quando Chiang lutava, era para tentar destruir Mao e o Exército Vermelho, em vez de tratar de livrar a China dos muito desprezados fascistas japoneses. Lincoln, a certa altura, substituiu McClellan pelo general Ambrose Burnside. Os colonialistas ocidentais não viam alternativa a Chiang, porque Mao era Inimigo Público n. 1, como o mais temido “vermelho”.
Mas as notícias que chegavam das fortalezas dos chineses comunistas começavam a ser graves demais para ignorar. Durante meses, Zhou Enlai, premier e operador-chefe de bonecos na política exterior do Partido Comunista da China pós-libertação, garantira aos norte-americanos que o Exército Vermelho combateria sob comando dele, o Generalíssimo, aliado do KMT, para derrotar os japoneses. O Generalíssimo negava-se firmemente a cooperar com qualquer comunista, por mais que essa cooperação fosse a decisão correta na defesa dos melhores interesses dos chineses. Além disso, os Vermelhos estavam derrotando, em guerra, tanto os japoneses como a gangue de Chiang, e não paravam de chegar relatos de que cidadãos felizes, saudáveis, produtivos e motivados e comunistas surgiam de todos os lados como avalanche. Isso, comparado aos soldados promovidos pela gangue da imprensa do KMT – que morriam de fome e frio, sem sapatos, doentes e esquecidos nos campos, por obra de seus próprios generais e oficiais corruptos.
Incapazes de dar conta da própria ideologia cega e surda, FDR, Washington e a imprensa popular simplesmente não conseguiam dizer “comunistas”. Assim, Mao & Co. passaram a ser chamados de “supostos comunistas”.
O presidente Franklin D. Roosevelt & Co. finalmente cedeu em 1937, e um pequeno contingente de funcionários e jornalistas foram mandados à China para ver com os próprios olhos. Entre eles, Edgar Snow, cujo livro Red Star over China tornou-se bestseller internacional naquele ano. Para choque profundo dos norte-americanos, era tudo verdade. Em todos os pontos onde os comunistas assumiram o controle, os males estavam sendo erradicados, dependência química de ópio, jogatina, crime organizado, prostituição, pés amarrados, escravidão infantil, mendicância, miseráveis sem teto, analfabetismo e fome.[1] 
Soldados do Exército Vermelho e os cidadãos eram sorridentes, industriosos, positivos, bem alimentados e comprometidos com a causa da China. Claramente não era propaganda, tudo manifestamente real e comprovável. Daquele ponto em diante, os norte-americanos compreenderam em segredo que o Generalíssimo e seu KMT não tinham qualquer chance na disputa contra Mao e seus formidáveis Vermelhos. Mas, porque era furioso odiador de comunistas, Chiang foi o único cavalo que passou, e os colonialistas ocidentais tiveram de montar nele.
O ocidente foi apanhado num redemoinho filosófico, transitivo. Mao e os Vermelhos eram comunistas, comunismo é o mal, logo, tudo que Mao e os Vermelhos fizessem tinha de ser mau. A partir daí, foram colhidos numa massiva dissonância cognitiva: são comunistas, ok. Mas como é possível que as coisas deem certo por lá na China?! 
Incapazes de dar conta da própria ideologia cega e surda, FDR, Washington e a imprensa popular simplesmente não conseguiam dizer “comunistas”. E foi assim que Mao & Co. passaram a ser chamados de “supostos comunistas”. 
Joseph Stálin ajudou a modelar esse truque de prestidigitação linguística, ao explicar ao primeiro-ministro britânico da guerra e a Roosevelt que os chineses não passavam de “rabanetes”, vermelhos por fora, mas brancos por dentro – que não eram comunistas de verdade. 
Assim, o prego quadrado da realidade do Partido Comunista da China foi martelado no buraco redondo da negação ocidental obsessiva doentia. Uma coisa porém os imperialistas ocidentais logo compreenderam clara e corretamente. O Partido Comunista da China não só varreu o Japão e os imperialistas ocidentais para fora da Nova China como, além disso, despachou o KMT para Taiwan.
Esse mesmo tipo de ideologia anticomunista, rígida, ainda sobrevive, forte, no Ocidente, quando tenta compreender a evolução sociocultural do povo chinês e a gestão político-econômica de Baba [líder] Pequim sobre o país. 
Para a mídia de massas ocidental, políticos e agitadores ocidentais em geral, a China ainda é, até hoje "suposta comunista". Claro que, se as coisas dão certo, qualquer país se transforma em capitalista, ok? Pois é. Assim como FDR e toda sua geração foram cegados e embrutecidos pela propaganda, a Euroanglolândia e grande parte do resto do mundo ainda sobrevivem apesar de terem tido o cérebro decepado. Os fatos espancam o Ocidente por todos os lados. Mas o ocidente agarra-se aos próprios antolhos de fundamentalista.
Comecemos com a Constituição Nacional Popular Chinesa e Deng Xiaoping. Os anticomunistas adoram bajular Deng, como se fosse alguma espécie de guru de alguma cruzada capitalista. Mas foi Deng que presidiu a mais recente reforma da Constituição da China, em 1982. E a Constituição da China é poderosa rejeição, explícita, do capitalismo e de tudo que o Ocidente prega.
A Constituição da China usa orgulhosamente o termo “comunismo” ou “comunista” 15 vezes; “socialismo” e “socialista”, impressionantes 123 vezes. Termos dialéticos como “classe(s)”, “luta”, “massas”, “independência”, “trabalho”, “trabalhador/trabalhando”, “camponês”, “exploração”, “capitalismo”, “propriedade”, “proletariado”, “coletivo(a)”, “cooperar”, “privado”, “briga”, “luta”, “ditadura” (democrática), “poder” e “feudal” aparecem no total 265 vezes. “Marxismo-Leninismo e Pensamento de Mao Zedong” são citados 10 vezes; e “revolução”, 12 vezes.
O vocabulário relacionado a Governo Extensivo [Big government] e planejamento central, como “salvaguardar”, “proteger”, “liderar”, “reforma/reformar”, “rural”, “urbano(a)”, “produção”, “plano”, “economia”, “sistema”, “administração”, “regras”, “regulações”, “instituição”, “empresa”, “ciência”, “tecnologia”, “moderno(a)”, “organização”, “gerenciamento”, “progresso”, “agricultura”, “fazendas [de criação/agrícolas]”, “terra”, “indústria”, “recursos”, “educação”, “central” e “desenvolver/desenvolvimento” aparece no texto constitucional da China estonteantes 703 vezes.
A importância de o governo central prover orientação ao povo para o que hoje se conhece como Sonho Chinês, avalia-se pelas 292 vezes que as palavras "estado" e "governo" são usadas na Constituição da China.
Palavras de desafio, que visam a levantar o espírito nacional e a derrotar o Ocidente, como “hegemonia”, “imperialismo”, “colonialismo”, “combate”, “defesa/defender”, “exército”, “militares”, “segurança”, “agressão”, “briga”, “sabotagem” e “provocação” são manobradas como armas num total de 85 vezes.
A Constituição da China é poderoso mecanismo de rejeição do capitalismo e de tudo que o Ocidente prega.
Qualquer dúvida que haja sobre quem é o beneficiário da Constituição da China desaparece facilmente, se se constata que a palavra “público” é usada 143 vezes, e “povo”, impressionantes 392 vezes, e que se dane o elitismo ocidental.
O preâmbulo sintetiza os 5.000 anos de civilização chinesa e depois expõe o século que aquela civilização viveu humilhada, a começar pelo cartel da droga, do crime ocidental organizado, em 1840. Trecho inicial do preâmbulo brada com orgulho:
“Depois de fundar a República Popular, a China gradualmente completou sua transição de uma sociedade neodemocrática, para uma sociedade socialista. A transformação socialista da propriedade privada dos meios de produção foi completada, o sistema de exploração do homem pelo homem abolido, e foi estabelecido o sistema socialista. A ditadura democrática do povo liderada pela classe trabalhadora e baseada na aliança de operários e camponeses, que é em essência a ditadura do proletariado, foi consolidada e desenvolvida. O povo chinês e o Exército de Libertação do Povo Chinês derrotaram a agressão imperialista e hegemonista, sabotagem e provocações armadas, e assim salvaguardaram a independência e a segurança nacionais da China e reforçaram a defesa nacional.”
Adiante, o preâmbulo fecha com esse pontapé gigante de artes marciais no focinho coletivo do ocidente,
“A China opõe-se firmemente ao imperialismo, à hegemonia e ao colonialismo, trabalha para reforçar a unidade com o povo de outros países, apoia as nações oprimidas e os países em desenvolvimento em sua justa luta para alcançar e preservar a independência nacional e desenvolver as respectivas economias nacionais, e luta para proteger a paz mundial e promover a causa do progresso humano.”
Ainda não entenderam? Já leram o Estatuto do Partido Comunista da China? Juntos, esse Estatuto e a Constituição do Povo são a espinha dorsal, a pedra fundacional da governança e da sociedade chinesa, e da busca incessante, por Baba Pequim, para manter o Mandato Celestial.
Bolhas de propriedade privada? Que propriedade privada? A propriedade é privada, claro, mas não é propriedade como o Ocidente entende o termo. Tudo que o ocidente entende como bens imóveis [ing. real estate[2]] é 100% propriedade do povo da China. Não há um palmo quadrado de terra que seja propriedade privada na República Popular. Você pode pagar pelo uso, por até 70 anos, de um pedaço de terra e desenvolvê-lo, mas ninguém pode comprar a propriedade do chão propriamente dito.
Empresa privada? Está bombando, sem dúvida, mas está fortemente concentrada em empresas de pequeno e médio porte, que complementam e não competem de fato com os setores estatais da economia. O setor privado é especialmente os muitos milhões de empresas de casal, ou individuais que atapetam o território chinês.
Livre mercado? Não há na China sequer um, que fosse, banco privado. Todos os bancos são propriedade do povo. O maior banco do mundo, o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) é estatal, claro, bem como três outros bancos chineses dos Top Ten globais: #1 (ICBC), #5 China Construction Bank (CCB), #9 Bank of China (BOC) e #10 Agricultural Bank of China (ABC). O mesmo vale para todas as empresas de seguros, para as Bolsas de Valores e Metais Preciosos de Xangai e Xenzhen. E vale o mesmo também para todos os grandes veículos de informação e noticiário, especialmente TV, rádio e mídias impressas, embora todos já tenham ouvido que Pequim seria a nova “Hollywood do Oriente”, na maior parte, privada.
Os avanços socioeconômicos e geopolíticos que a China conseguiu, desde 1949, podem ser diretamente atribuídos ao sistema chinês anti-imperial e comunista de governar.
Desavergonhado capitalismo? Nem perto! Quase todos os grandes setores econômicos na China são dominados por Empresas de Propriedade Estatal, EPE [ing. State-Owned Enterprises, SOEs]. 
Tudo, de transporte aéreo comercial/aviônica até a indústria aeroespacial, da indústria química à indústria da construção, dos estaleiros à mineração, de energia nuclear à indústria do petróleo, de ferrovias ao aço e a instalações de telecomunicações, mais de 100 setores chaves tem importante participação do povo chinês, mediante a participação do Estado chinês. Muitas dessas empresas estão entre as maiores do mundo. Não apenas isso, mas, como os bancos acima listados, são empresas muito lucrativas e bem administradas, exatamente o contrário do que diz a incansável propaganda ocidental (Fortune).
Privatizações? Aí, é preciso olhar por trás da cortina de manchetes mentirosas. Baba Pequim limita a 30% a venda de ações das EPEs ao público. Mais que isso, há estrito controle para que ninguém tente controlar o que é oferecido no mercado. A propriedade das ações tem de ser pulverizada. Muitas dessas ações pertencem a cidadãos chineses (papéis A), algumas são oferecidas a estrangeiros (papéis B). E cada vez mais empresas chinesas, inclusive as EPEs fazem leilões públicos de ações em mercados de ações fora da China, de parte dos 30% das ações das EPEs que podem ser vendidas ao público.
Reformas? Não me façam rir! Baba Pequim jamais, em tempo algum, venderá as Empresas de Propriedade Estatal, que pertencem ao povo chinês. Pequim sabe que a harmonia social e a estabilidade econômica para os cidadãos depende da capacidade do Estado chinês para fazer a gestão macroeconômica e o planejamento de longo prazo (Plano Quinquenal) para o desenvolvimento do país, o que só é possível se o Estado preservar 100% da propriedade de todos os bens imóveis (o que o Marxismo ensina a fazer no capítulo controlar os meios de produção), e das indústrias e setores chaves. 
O PCC continuará a criar riqueza sob a rubrica Socialismo com Características Chinesas, tomando emprestados alguns truques dos capitalistas. Mas é fase de transição. Deng Xiaoping disse incontáveis vezes – e o ocidente insiste em fingir que não ouviu – que a meta é seguir a trilha da economia marxista até uma sociedade comunista próspera.
Mas não é justo, dirá você, o campo de jogo não é igual para todos. Paciência! Azar o dos capitalistas ocidentais. Os avanços socioeconômicos e geopolíticos que a China conseguiu, desde 1949, podem ser diretamente atribuídos ao sistema chinês anti-imperial e comunista de governar. Cada um pode ver o que quiser ver no Império do Meio, projetar os próprios sacrossantos (alguns diriam mitológicos) ideais ocidental sobre o comando em Pequim [Baba Pequim] e o povo chinês, mas nem assim alguém pode falar de “suposto comunismo”. É comunismo. Ponto. Parágrafo. Chhhhhh... Ouça atentamente, e você ouvirá o espírito de Deng Xiaoping sussurrando no seu ouvido.*****
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[1] Se tudo isso fosse mentira e propaganda – e não é –, ainda será menos mentira e propaganda que o asneirol que FSP publicou dia 21/8/2008, em coluna assinada por Pedro Del Picchia, como se fosse informação & jornalismo, intitulada "O Mandarim vermelho", com rápida referência (errada) a Snow e na sessão "Esportes" :-D)) [NTs].
[2] Real estate (ing.) [nos EUA] são os bens em terra e os prédios que haja nela, além dos recursos naturais da terra, incluindo flora e fauna não cultivadas, plantações e colheitas e animais domésticos e gado, e depósitos de água e minerais. Embora a mídia refira-se em geral ao "mercado de real estate", do ponto de vista da moradia, real estate pode ser agrupada em três amplas categorias baseadas no uso: residencial, comercial e industrial. Exemplos de real estate residencial incluem terra não cultivada, casas, condomínios, residências familiares; exemplos e real estate comercial são prédios de escritórios, armazéns, prédios de lojas de varejo; e exemplos de real estate industrial incluem fábricas, minas e fazendas (de Investopedia) [NTs] 
Fonte: All China Review
Tradução: Vila Vudu

Carlos Maia
Secretario de Agitação e Propaganda
do Partido Comunista do Brasil/ Curitiba-Pr


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Mautner cede direitos e A bandeira do Meu Partido é hino do PCdoB


A cantora Railídia Carvalho interpretou a canção de Mautner durante o Congresso

“A bandeira do meu partido / é vermelha de um sonho antigo / cor da hora que se levanta / levanta agora, levanta aurora!”, diz um trecho da canção que se torna o hino oficial do PCdoB e passa a fazer parte do cerimonial e em todas as atividades e eventos oficiais do partido, juntamente com o Hino Nacional e a Internacional Comunista.

A cantora e militante do PCdoB Railídia Carvalho foi quem interpretou a canção durante o ato. Logo nas primeiras estrofes, um mar de bandeiras vermelhas tomou conta do plenário que entoava o hino com punhos serrados, como forma de demonstrar a disposição de luta da aguerrida militância do partido.

No vídeo, Mautner ainda declamou o poema Quem é o Partido de Bertolt Brecht. “Quem é ele? Nós somos ele. Você, eu, vocês – nós todos”, diz um trecho do poema.

A abertura do evento foi feita com a execução do Hino Nacional, interpretado pela cantora Myrla Muniz, acompanhada por músicos que executaram o hino com sanfona, zabumba, violoncelo e triângulo.

Confira a íntegra do hino A bandeira do Meu Partido:

A bandeira do meu partido / é vermelha de um sonho antigo / cor da hora que se levanta / levanta agora, levanta aurora!
Leva a esperança, minha bandeira / tu és criança a vida inteira / toda vermelha, sem uma listra / minha bandeira que é socialista!
Estandarte puro, da nova era / que todo mundo espera, espera / coração lindo, no céu flutuando / te amo sorrindo, te amo cantando!
Mas a bandeira do meu Partido / vem entrelaçada com outra bandeira / a mais bela, a primeira / verde-amarela, a bandeira brasileira.





Do Portal Vermelho, Dayane Santos



Carlos Maia
Secretario de Agitação e Propaganda
do Partido Comunista do Brasil/ Curitiba-Pr


domingo, 19 de novembro de 2017

Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels (1848)-Completo

Secretaria de Agitação e Propaganda-PCdoB/Curitiba


Um fantasma ronda a Europa - o fantasma do comunismo. Todas as potências da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e a czar, Metternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha. Que partido de oposição não foi acusado de comunista por seus adversários no poder? Que partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou de esquerda a alcunha infamante de comunista? Duas conclusões decorrem desses fatos: 1ª) O comunismo já é reconhecido como força por todas as potências da Europa. 2ª) É tempo de os comunistas exporem, à face do mundo inteiro, seu modo de ver, seus fins e suas tendências, opondo um manifesto do próprio partido à lenda do espectro do comunismo.

http://www.culturabrasil.org/manifestocomunista.htm



Apresentação (2014)
Em 1848 o método de análise da sociedade sofreu uma transformação radical a partir da construção de uma nova ferramenta, não insuperável ou dogmática, contudo até nossos dias insuperada: O Materialismo Dialético. No Manifesto do Partido Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels difundiram de maneira simples, em formato de “Manifesto”, sua nova concepção de Filosofia e de História. Um Manifesto é um trabalho curto, em linguagem simples, que busca sintetizar descobertas e, a partir delas, propor ação. A Obra máxima de Karl Marx é "O Capital" e, no pequenino Manifesto há traços de divulgação científica em linguagem popular, contendo ainda o que Marx e Engels descobriram em suas exaustivas pesquisas que resultaram trabalhos de maior fôlego; dentro de uma Obra Enclopédica, menciono, no topo de todas: "A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra", de Engels e a "Crítica da Filosofia do Direito de Hegel" de autoria de Karl Marx
“Por burguesia compreende-se a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social, que empregam o trabalho assalariado. Por proletariado compreende-se a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, privados de meios de produção próprios, se vêem obrigados a vender sua força de trabalho para poder existir.” (Nota de F. Engels à edição inglesa de 1888)

INTRODUÇÃO

Um fantasma ronda a Europa - o fantasma do comunismo. Todas as potências da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e a czar, Metternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha. Que partido de oposição não foi acusado de comunista por seus adversários no poder? Que partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou de esquerda a alcunha infamante de comunista? Duas conclusões decorrem desses fatos: 1ª) O comunismo já é reconhecido como força por todas as potências da Europa. 2ª) É tempo de os comunistas exporem, à face do mundo inteiro, seu modo de ver, seus fins e suas tendências, opondo um manifesto do próprio partido à lenda do espectro do comunismo.
Com este fim, reuniram-se, em Londres, comunistas de várias nacionalidades e redigiram o manifesto seguinte, que será publicado em inglês, francês, alemão, italiano, flamengo e dinamarquês.


PARTE 1 - BURGUESES E PROLETÁRIOS

A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas da classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e oficial, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ore franca, ora disfarçada, uma guerra que termino sempre, ou por uma transformação evolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das suar classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, verificamos quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres, oficiais e servos, e, em cada uma destas classes, gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir velhas classes, velhas condições de opressão, velhas formas de luta por outras novas.
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.
Dos servos da Idade Média nasceram os plebeus livres das primeiras cidades; desta população municipal, saíram os primeiros elementos da burguesia.
A descoberta da América, a circunavegação da África ofereceram à burguesia ascendente um novo campo de ação. Os mercados da Índia e da China, a colonização da América, o comércio colonial, o incremento dos meios de troca e, em geral, das mercadorias imprimiram um impulso, desconhecido até então, ao comércio, à indústria, à navegação e, por conseguinte, desenvolveram rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em decomposição.
A antiga organização feudal da indústria, em que esta era circunscrita a corporações fechadas, já não podia satisfazer às necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados. A manufatura a substituiu. A pequena burguesia industrial suplantou os mestres das corporações, a divisão do trabalho entre as diferentes corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria oficina.
Todavia, os mercados ampliavam-se cada vez mais: a procura de mercadorias aumentava sempre. A própria manufatura tornou-se insuficiente, então, o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. A grande indústria moderna suplantou a manufatura; a média burguesia industrial cedeu lugar aos milionários da indústria - chefes de verdadeiros exércitos industriais - os burgueses modernos.
A grande indústria criou o mercado mundial preparado pela descoberta da América. O mercado mundial acelerou prodigiosamente o desenvolvimento do comércio, da navegação, dos meios de comunicação. Esse desenvolvimento reagiu por sua vez sobre a extensão da indústria; e à medida que a indústria, o comércio, a navegação, as vias férreas se desenvolviam, crescia a burguesia, multiplicando seus capitais e relegando a segundo plano as classes legadas pela Idade Média. Vemos pois, que a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções no modo de produção e de troca.
Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia era acompanhada de um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associação armada administrando-se a si própria na comuna, aqui, República urbana independente, ali, terceiro estado, tributário da monarquia, depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta, pedra angular das grandes monarquias, a burguesia, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania política exclusiva no Estado representativo moderno. O governo do estado moderno não é se não um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.
A burguesia desempenhou na história um papel eminentemente revolucionário. Onde quer que tenha conquistado o Poder, a burguesia destruiu as relações feudais, patriarcais e idílicas. Ela despedaçou sem piedade todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus "superiores naturais", para só deixar subsistir, entre os homens, o laço do frio interesse, as cruéis exigências do "pagamento à vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal.
A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados. A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias.
A burguesia revelou como a brutal manifestação de força na Idade Média, tão admirada pela reação, encontra seu complemento natural na ociosidade mais completa. Foi a primeira a provar o que pode realizar a atividade humana: criou maravilhas maiores que as pirâmides do Egito, os aquedutos romanos, as catedrais góticas: conduziu expedições que empanaram mesmo as antigas invasões e as cruzadas.
A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais. A conservação inalterada do antigo modo de produção constituía, pelo contrário, a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores. Essa subversão continua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas, as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes mesmo de ossificar-se. Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas. Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda parte.
Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela retirou da indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, indústrias que não empregam mais matérias primas nacionais, mais sim matérias primas vindas das regiões mais distantes, cujos produtos se consomem não somente no próprio pais mas em todas as partes do globo. Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas necessidades que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolve-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material quanto à produção intelectual. As criações intelectuais de uma nação torna-se propriedade comum de todas. A estreiteza e o exclusivismo nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis; das inúmeras literaturas nacionais e locais, nasce uma literatura universal.
Devido ao rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e ao constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta para a torrente de civilização mesmo as nações mais bárbaras. Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China e obriga a capitularem os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros. Sob pena de morte, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção, constrange-as a abraçar o que ela chama civilização, isto é, a se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua imagem e semelhança.
A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes centros urbanos; aumentou prodigiosamente a população das cidades em relação à dos campos e, com isso, arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural. Do mesmo modo que subordinou o campo à cidade, os países bárbaros ou semi bárbaros aos países civilizados, subordinou os povos camponeses aos povos burgueses, o Oriente ao Ocidente. A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Aglomerou as populações, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. A conseqüência necessária dessas transformações foi a centralização política. Províncias independentes, apenas ligadas por débeis laços federativos, possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras diferentes, foram reunidas em uma só nação, com um só governo, uma só lei, um só interesse nacional de classe, uma só barreira alfandegária.
A burguesia, durante seu domínio de classe, apenas secular, criou forças produtivas mais numerosas e mais colossais que todas as gerações passadas em conjunto. A subjugação das forças da natureza, as máquinas, a aplicação da química à indústria e à agricultura, a navegação à vapor, as estradas de ferro, o telégrafo elétrico, a exploração de continentes inteiros, a canalização dos rios, populações inteiras brotando na terra como por encanto que século anterior teria suspeitado que semelhantes forças produtivas estivessem adormecidas no seio do trabalho social?
Vemos pois: os meios de produção e de troca, sobre cuja base se ergue a burguesia, foram gerados no seio da sociedade feudal. Esses meios de produção e de troca, as condições em que a sociedade feudal produzia e trocava, a organização feudal da agricultura e da manufatura, em suma, o regime feudal de propriedade, deixaram de corresponder às forças produtivas já desenvolvidas, ao alcançarem estas um certo grau de desenvolvimento. Entravavam a produção em lugar de impulsioná-la. Transformaram-se em outras tantas cadeias que era preciso despedaçar e foram despedaçadas. Em seu lugar, estabeleceu-se a livre concorrência, com uma organização social e política correspondente, com a supremacia econômica e política da classe burguesa.
Assistimos hoje a um processo semelhante. As relações burguesas de produção e de troca, o regime burguês de propriedade, a sociedade burguesa moderna, que fez surgir gigantescos meios de produção e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as forças internas que pôs em movimento com suas palavras mágicas. Há dezenas de anos, a história da indústria e do comércio não é senão a história da revolta das forças produtivas modernas contra as atuais relações de produção e de propriedade que condicionam a existência da burguesa e seu domínio. Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesia. Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que em qualquer outra época teria parecido um paradoxo, desaba sobre .a sociedade - a epidemia da superprodução. Subitamente, a sociedade vê-se, reconduzida a um estado de barbaria momentânea, dir-se-ia que a fome ou uma guerra de extermínio cortaram-lhe todos os meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem aniquilados. E por quê? Porque a sociedade possui demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas de quê dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das relações de propriedade burguesa; pelo contrário, tornaram-se por demais poderosas para essas condições, que passam a entravá-las; e todas as vezes que as forças produtivas sociais se libertam desses entraves, precipitam na desordem a sociedade inteira e ameaçam a existência da propriedade burguesa. O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las.
As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo voltam-se hoje contra a própria burguesia. A burguesia, porém, não forjou somente as armas que lhe darão morte; produziu também os homens que manejarão essas armas - os operários modernos, os proletários.
Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho e que só o encontram na medida em que este aumenta o capital. Esses operários, constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em conseqüência, estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado.
O crescente emprego de máquinas e a divisão do trabalho, despojando o trabalho do operário de seu caráter autônomo, tiraram-lhe todo atrativo. O produtor passa a um simples apêndice da máquina e só se requer dele a operação mais simples, mais monótona; mais fácil de apreender. Desse modo, o custo do operário se reduz, quase exclusivamente, aos meios de manutenção que lhe são necessários para viver e procriar. Ora, o preço do trabalho, como de toda mercadoria, é igual ao custo de sua produção. Portanto, à medida que aumenta o caráter enfadonho do trabalho, decrescem os salários. Quanto mais se desenvolvem o maquinismo e a divisão do trabalho, mais aumenta a quantidade de trabalho, quer pelo prolongamento das horas, quer pelo aumento do trabalho exigido em um tempo determinado, pela aceleração do movimento das máquinas etc. A indústria moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre da corporaçãopatriarcal na grande fábrica do industrial capitalista. Massas de operários, amontoadas na fábrica, são organizadas militarmente. Como soldados da indústria, estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais. Não são somente escravos da classe burguesa, do Estado burguês, mas também diariamente, a cada hora, escravos da máquina, do contramestre e, sobretudo, do dono da fábrica. Esse despotismo é tanto mais mesquinho, odioso e exasperador quanto maior é a franqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusivo.
Quanto menos habilidade e força o trabalho exige, isto é, quanto mais a indústria moderna progride, tanto mais o trabalho dos homens é suplantado pelo das mulheres e crianças. As diferenças de idade e de sexo não tem mais importância social para a classe operária. Não há senão instrumentos de trabalho, cujo preço varia segundo a idade e o sexo.
Depois de Sofrer o exploração do fabricante e de receber Seu salário em dinheiro, o operário torna-se presa de outros membros da burguesia, do proprietário, do varejista, do usuário etc.
As camadas inferiores da classe média de outrora, os pequenas industriais, pequenas comerciante, e pessoas que possuem rendas, artesãos e camponeses, caem nas fileiras doproletariado: uns porque seus pequenos capitais, não lhes permitindo empregar os processos da grande indústria, sucumbem na concorrência com os grandes capitalistas; outros porque sua habilidade profissional é depreciada pelos novos métodos de produção. Assim, o proletariado é recrutado em todas as classes da população.
O proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Logo que nasce começa sua luta contra a burguesia. Em princípio, empenham-se na luta operários isolados, mais tarde, operários de uma mesma fábrica, finalmente operários do mesmo ramo de indústria, de uma mesma localidade, contra o burguês que os explora diretamente. Não se limitam a atacar as relações burguesas de produção, atacam os instrumentos de produção: destroem as mercadorias estrangeiras que lhes fazem concorrência, quebram as máquinas, queimam as fábricas e esforçam-se para reconquistar a posição perdida do artesão da Idade Média.
Nesta fase, constitui o proletariado massa disseminada por todo o pais e dispersa pela concorrência. Se, por vezes, os operários se unem para agir em massa compacta, isto não é ainda o resultado de sua própria união, mas da união da burguesia que, para atingir seus próprios fins políticos, é levada a por em movimento todo o proletariado, o que ainda pode fazer provisoriamente. Durante essa fase, os proletários não combatem ainda seus próprios inimigos, mas os inimigos de seus inimigos, isto é, os restos da monarquia absoluta, os proprietários territoriais, os burgueses não industriais, os pequenos burgueses. Todo o movimento histórico está, desse modo, concentrado nas mãos da burguesia e qualquer vitória alcançada nessas condições é uma vitória burguesa. Ora, a indústria, desenvolvendo-se, não somente aumenta o número dos proletários, mas concentrados em massas cada vez mais consideráveis; sua força cresce e eles adquirem maior consciência dela. Os interesses e as condições de existência dos proletários se igualam cada vez mais, à medida que a máquina extingue toda diferença do trabalho e quase por toda parte reduz o salário a um nível igualmente baixo. Em virtude da concorrência crescente dos burgueses entre si e devido às crises comerciais que disso resultam os salários se tornam cada vez mais instáveis: o aperfeiçoamento constante e cada vez mais rápido das máquinas torna a condição de vida do operário cada vez mais precária; os choques individuais entre o operário e o burguês tomam cada vez mais o caráter de choques entre duas classes. Os operários começam a formar uniões contra os burgueses e atuam em comum na defesa de seus salários, chegam a fundar associações permanentes a fim de se prepararem, na previsão daqueles choques eventuais. Aqui e ali a luta se transforma em rebelião.
Os operários triunfam às vezes; mas é um triunfo efêmero. O verdadeiro resultado de suas lutas não é o êxito imediato, mas a união cada vez mais ampla dos trabalhadores. Esta união é facilitada pelo crescimento dos meios de comunicação criados pela grande indústria e que permitem o contato entre operários de localidades diferentes. Ora, basta esse contato para concentrar as numerosas lutas locais que têm o mesmo caráter em toda parte, em uma luta nacional, em uma luta de classes. Mas toda luta de classes é uma luta política. E a união que os burgueses da Idade Média levavam século a realizar, com seus caminhos vicinais, os proletários modernos realizam em poucos anos por meio das vias férreas.
A organização do proletariado em classe e, portanto, em partido político, é incessantemente destruída pela concorrência que fazem entre si os próprios operários. Mas renasce sempre e cada vez mais forte, mais firme, mais poderosa. Aproveita-se das divisões intestinas da burguesia para obrigá-la ao reconhecimento legal de certos interesses da classe operária, como, por exemplo, a lei da jornada de dez horas de trabalho na Inglaterra.
Em geral, os choques que ocorrem na velha sociedade favorecem de diversos modos o desenvolvimento do proletariado. A burguesia vive em guerra perpétua; primeiro, contra a aristocracia; depois, contra as frações da própria burguesia cujos interesses se encontram em conflito com os progressos da indústria; e sempre contra a burguesia dos países estrangeiros. Em todas essas lutas, vê-se forçada a apelar para o proletariado, reclamar seu concurso e arrastá-lo assim para o movimento político, de modo que a burguesia fornece aos proletários os -elementos de sua própria educação política, isto é, armas contra ela própria.
Além disso, corno já vimos, frações inteiras da classe dominante, em conseqüência do desenvolvimento da indústria são precipitadas no proletariado, ou ameaçadas, pelo menos, em suas condições de existência. Também elas trazem ao proletariado numerosos elementos de educação.
Finalmente, nos períodos em que a luta de classe se aproxima da hora decisiva, o processo de dissolução da classe dominante, de toda a velha sociedade, adquire um caráter tão violento e agudo que uma pequena fração da classe dominante se desliga desta, ligando-se à classe revolucionária, a classe que traz em si o futuro. Do mesmo modo que outrora uma parte da nobreza passou-se para a burguesia, em nossos dias, uma parte da burguesia passa-se para o proletariado, especialmente a parte dos ideólogos burgueses que chegaram à compreensão teórica do movimento histórico em seu conjunto.
De todas as classes que ora enfrentam a burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indústria; o proletariado, pelo contrário, é seu produto mais autêntico.
As classes médias -pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos, camponeses - combatem a burguesia porque esta compromete sua existência como classes médias. Não são, pois, revolucionárias, mas conservadoras; mais ainda, reacionárias, pois pretendem fazer girar para trás a roda da história. Quando são revolucionárias, é em conseqüência de sua iminente passagem para o proletariado; não defendem então seus interesses atuais, mas seus interesses futuros; abandonam seu próprio ponto de vista pira adotar o do proletariado.
O lumpemproletariado, esse produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade pode, às vezes, ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária; todavia, suas condições de vida o predispõem mais a vender-se à reação para servir às suas manobras.
Nas condições de existência do proletariado já estão destruídas as da velha sociedade. O proletariado não tem propriedade; suas relações com a mulher e os filhos nada tem de comum com as relações familiares burguesas. O trabalho industrial moderno, a sujeição do operário pelo capital, tanto na Inglaterra como na França, na América como na Alemanha, despoja o proletariado de todo caráter nacional. As leis, a moral, a religião, são para ele meros preconceitos burgueses, atrás dos quais se ocultam outros tantos interesses burgueses.
Todas as classes que no passado conquistaram o Poder, trataram de consolidar a situação adquirida submetendo a sociedade às suas condições de apropriação. Os proletários não podem apoderar-se das forças produtivas sociais senão abolindo o modo e apropriação que era próprio a estas e, por conseguinte, todo modo de apropriação em vigor até hoje. Os proletários nada têm de seu a salvaguardar; sua missão é destruir todas as garantias e segurança da propriedade privada até aqui existentes.
Todos os movimentos históricos têm sido, até hoje, movimentos de minorias ou em proveito de minorias. O movimento proletário é o movimento espontâneo da imensa maioria em proveito da imensa maioria. O proletário, a camada inferior da sociedade atual, não pode erguer-se, por-se de pé, sem fazer saltar todos os estratos superpostos que constituem a sociedade oficial.
A luta do proletariado contra a burguesia embora não seja na essência uma luta nacional, reveste-se contudo dessa forma nos primeiros tempos. E natural que o proletariado de cada pais deva, antes de tudo, liquidar sua própria burguesia.
Esboçando em linhas gerais as fases do desenvolvimento proletário, descrevemos a história da guerra civil, mais ou menos oculta, que lavra na sociedade atual, até a hora em que essa guerra explode numa revolução aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da burguesia.
Todas as sociedades anteriores, como vimos, se basearam no antagonismo entre classes opressoras e classes oprimidas. Mas para oprimir uma classe é preciso poder garantir-lhe condições tais que lhe permitam pelo menos uma existência de escravo. O servo, em plena servidão, conseguia tornar-se membro da comuna, da mesma forma que o pequeno burguês, sob o jugo do absolutismo feudal, elevava-se à categoria de burguês. O operário moderno, pelo contrário, longe de se elevar com o progresso da indústria, desce cada vez mais baixo dentro de sua própria classe. O trabalhador cai na miséria e esta cresce ainda mais rapidamente que a população e a riqueza. E, pois, evidente que a burguesia seja incapaz de continuar desempenhando o papel de classe dominante e de impor à sociedade, como lei suprema, as condições de existência de sua classe. Não pode exercer o seu domínio porque não pode mais assegurar a existência de seu escravo, mesmo no quadro de sua escravidão, porque é obrigada a deixá-lo cair numa tal situação, que deve nutri-lo em lugar de fazer-se nutrir por ele. A sociedade não pode mais existir sob sua dominação, o que quer dizer que a existência da burguesia é, doravante, incompatível coma da sociedade.
A condição essencial da existência e da supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares, a formação e o crescimento do capital; a condição de existência do capital é o trabalho assalariado. Este baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si. O progresso da indústria, de que a burguesia é agente passivo e inconsciente, substitui o isolamento dos operários, resultante de sua competição, por sua união revolucionária mediante a associação. Assim, o desenvolvimento da grande indústria socava o terreno em que a burguesia assentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos. A burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis.
 

PARTE 2 - PROLETÁRIOS E COMUNISTAS

Qual a posição dos comunistas diante dos proletários em geral? Os comunistas não formam um partido à parte, oposto aos outros partidos operários. Não têm interesses que os separem do proletariado em geral. Não proclamam princípios particulares, segundo os quais pretenderiam modelar o movimento operário. Os comunistas só se distinguem dos outros partidos operários em dois pontos:
1) Nas diversas lutas nacionais dos proletários, destacam e fazem prevalecer os interesses comuns do proletariado, independentemente da nacionalidade.
2) Nas diferentes fases por que passa a luta entre proletários e burgueses, representam, sempre e em toda parte, os interesses do movimento em seu conjunto.
Praticamente, os comunistas constituem, pois, a fração mais resoluta dos partidos operários de cada pais, a fração que impulsiona as demais; teoricamente têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão nítida das condições, da marcha e dos resultados gerais do movimento proletário. O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários: constituição dos proletários em classe, derrubada da supremacia burguesa, conquista do poder político pelo proletariado.
As concepções teóricas dos comunistas não se baseiam, de modo algum, em idéias ou princípios inventados ou descobertos por este ou aquele reformador do mundo. São apenas a expressão geral das condições reais de uma luta de classes existente, de um movimento histórico que se desenvolve sob os nossos olhos. A abolição das relações de propriedade que têm existido até hoje não é uma característica peculiar exclusiva do comunismo. Todas as relações de propriedade têm passado por modificações constantes em conseqüência das continuas transformações das condições históricas.
A Revolução Francesa, por exemplo, aboliu a propriedade feudal em proveito da propriedade burguesa. O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade geral, mas a abolição da propriedade burguesa. Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos antagonismos de classes, na exploração de uns pelos outros. Neste sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: a abolição da propriedade privada. Censuram-nos, a nós comunistas, o querer abolir a propriedade pessoalmente adquirida, fruto do trabalho do indivíduo, propriedade que se declara ser base de toda liberdade, de toda atividade, de toda independência individual. A propriedade pessoal, fruto do trabalho e do mérito! Pretende-se falar da propriedade do pequeno burguês, do pequeno camponês, forma de propriedade anterior à propriedade burguesa? Não precisamos aboli-la, porque o progresso da indústria já a aboliu e continua a aboli-la diariamente. Ou por ventura pretende-se falar da propriedade privada atual, da propriedade burguesa? Mas, o trabalho do proletário, o trabalho assalariado cria propriedade para o proletário? De nenhum modo. Cria o capital, isto é, a propriedade que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalariado, a fim de explorá-lo novamente. Em sua forma atual, a propriedade se move entre os dois termos antagônicos: capital e trabalho assalariado. Examinemos os dois termos dessa antinomia.
Ser capitalista significa ocupar não somente uma posição pessoal, mas também uma posição social na produção. O capital é um produto coletivo: só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade, e mesmo, em última instância, pelos esforços combinados de todos os membros da sociedade. O capital não é, pois, uma força pessoal; é uma força social. Assim, quando o capital é transformado em propriedade comum, pertencente a todos os membros da sociedade, não é uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade social. O que se transformou foi apenas o caráter social da propriedade. Esta perde seu caráter de classe.
Passemos ao trabalho assalariado. O preço médio que se paga pelo trabalho assalariado é o mínimo de salário, isto é, a soma dos meios de subsistência necessária para que o operário viva como operário. Por conseguinte, o que o operário obtém com o seu trabalho é o estritamente necessário para mera conservação e reprodução de sua vida. Não queremos nenhum modo abolir essa apropriação pessoal dos produtos do trabalho, indispensável à manutenção e à reprodução da vida humana, pois essa apropriação não deixa nenhum lucro líquido que confira poder sobre o trabalho alheio. O que queremos é suprimir o caráter miserável desta apropriação que faz com que o operário só viva para aumentar o capital e só viva na medida em que o exigem os interesses da classe dominante. Na sociedade burguesa, o trabalho vivo é sempre um meio de aumentar o trabalho acumulado. Na sociedade comunista, o trabalho acumulado é sempre um meio de ampliar, enriquecer e melhora, cada vez mais a existência dos trabalhadores. Na sociedade burguesa, o passado domina o presente; na sociedade comunista, é o presente que domina o passado. Na sociedade burguesa, o capital é independente e pessoal, ao passo que o indivíduo que trabalha não tem nem independência nem personalidade.
É a abolição de semelhante estado de coisas que a burguesia verbera como a abolição da individualidade e da liberdade. E com razão. Porque se trata efetivamente de abolir a individualidade burguesa, a independência burguesa, a liberdade burguesa. Por liberdade, nas condições atuais da produção burguesa, compreende-se a liberdade de comércio, a liberdade de comprar e vender.Mas, se o tráfico desaparece, desaparecerá também a liberdade de traficar. Além disso, toda a fraseologia sobre a liberdade de comércio, bem como todas as bazófias liberais de nossa burguesia só têm sentido quando se referem ao comércio tolhido e ao burguês oprimido da Idade Média; nenhum sentido têm quando se trata da abolição comunista do tráfico, das relações burguesas de produção e da própria burguesia.
Horrorizai-vos porque queremos abolir a propriedade privada. Mas em vossa sociedade a propriedade privada está abolida para nove décimos de seus membros. E é precisamente porque não existe para estes nove décimos que ela existe para vós. Acusai-nos, portanto, de querer abolir uma forma de propriedade que só pode existir com a condição de privar a imensa maioria da sociedade de toda propriedade.
Em resumo, acusai-nos de querer abolir vossa propriedade. De fato, é isso que queremos. Desde o momento em que o trabalho não mais pode ser convertido em capital, em dinheiro, em renda da terra, numa palavra, em poder social capaz de ser monopolizado, isto é, desde o momento em que a propriedade individual não possa mais converter-se em propriedade burguesa declarais que a individualidade está suprimida. Confessais, pois, que quando falais do indivíduo, quereis referir-vos unicamente ao burguês, ao proprietário burguês. E este indivíduo, sem dúvida, deve ser suprimido.
O comunismo não retira a ninguém o poder de apropriar-se de sua parte dos produtos sociais, apenas suprime o poder de escravizar o trabalho de outrem por meio dessa apropriação. Alega-se ainda que, com a abolição da propriedade privada, toda a atividade cessaria, uma inércia geral apoderar-se-ia do mundo. Se isso fosse verdade, há muito que a sociedade burguesa teria sucumbido à ociosidade, pois que os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham. Toda a objeção se reduz a essa tautologia: não haverá mais trabalhoassalariado quando não mais existir capital.
As acusações feitas contra o modo comunista de produção e de apropriação dos produtos materiais tem sido feitas igualmente contra a produção e a apropriação dos produtos do trabalho intelectual. Assim como o desaparecimento da propriedade de classe eqüivale, para o burguês, ao desaparecimento de toda produção, também o desaparecimento da cultura de classe significa, para ele, o desaparecimento de toda a cultura. A cultura, cuja perda o burguês deplora, é, para a imensa maioria dos homens, apenas um adestramento que os transforma em máquinas.
Mas não discutais conosco enquanto aplicardes à abolição da propriedade burguesa o critério de vossas noções burguesas de liberdade, cultura, direito etc. Vossas próprias idéias decorrem das relações de produção e de propriedade burguesas, assim como vosso direito não passa da vontade de vossa classe erigida em lei, vontade cujo conteúdo é determinado pelas condições materiais de vossa existência como classe.
A falsa concepção interesseira que vos leva a erigir em leis eternas da natureza e da razão as relações sociais oriundas do vosso modo transitório de produção e de propriedade - relações históricas que surgem e desaparecem no curso da produção a compartilhais com todas as classes dominantes já desaparecidas. O que admitis para a propriedade antiga, o que admitis para a propriedade feudal, já não vos atreveis a admitir para a propriedade burguesa.
Abolição da família! Até os mais radicais ficam indignados diante desse desígnio infame dos comunistas. Sobre que fundamento repousa a família atual, a família burguesa? No capital, no ganho individual. A família, na sua plenitude, só existe para a burguesia, mas encontra seu complemento na supressão forçada da família para o proletário e na prostituição pública. A família burguesa desvanece-se naturalmente com o desvanecer de seu complemento e uma e outra desaparecerão com o desaparecimento do capital. Acusai-nos de querer abolir a exploração das crianças por seu próprios pais? Confessamos este crime. Dizeis também que destruímos os vínculos mais íntimos, substituindo a educação doméstica pela educação social.
E vossa educação não é também determinada pela sociedade, pelas condições sociais em que educais vossos filhos, pela intervenção direta ou indireta da sociedade, do meio de vossas escolas etc.? Os comunistas não inventaram essa intromissão da sociedade na educação, apenas mudam seu caráter e arrancam a educação da influência da classe dominante.
As declamações burguesas sobre a família e a educação, sobre os doces laços que unem a criança aos pais. tornam-se cada vez mais repugnantes à medida que a grande indústria destrói todos os laços familiares do proletário e transforma as crianças em simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho. Toda a burguesia grita em coro: "Vós, comunistas, quereis introduzir a comunidade das mulheres!" Para o burguês, sua mulher nada mais é que um instrumento de produção. Ouvindo dizer que os instrumentos de produção serão explorados em comum, conclui naturalmente que ocorrerá o mesmo com as mulheres. Não imagina que se trata precisamente de arrancar a mulher de seu papel atual de simples instrumento de produção.
Nada mais grotesco, aliás, que a virtuosa indignação que, a nossos burgueses, inspira a pretensa comunidade oficial das mulheres que adotariam os comunistas. Os comunistas não precisam introduzir a comunidade das mulheres. Esta quase sempre existiu. Nossos burgueses, não contentes em ter à sua disposição as mulheres e as filhas dos proletários, sem falar da prostituição oficial, têm singular prazer em cornearem-se uns aos outros.
O casamento burguês é, na realidade, a comunidade das mulheres casadas. No máximo, poderiam acusar os comunistas de quererem substituir uma comunidade de mulheres, hipócrita e dissimulada, por outra que seria franca e oficial. De resto, é evidente que, com a abolição das relações de produção atuais, a comunidade das mulheres que deriva dessas relações, isto é, a prostituição oficial e não oficial desaparecerá. Além disso, os comunistas são acusados de quererem abolir a pátria, a nacionalidade.
Os operários não têm pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem. Como, porém, o proletariado tem por objetivo conquistar o poder político e erigir-se em classe dirigente da nação, tornar-se ele mesmo a nação, ele é, nessa medida, nacional, embora de nenhum modo no sentido burguês da palavra.
As demarcações e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem cada vez mais com o desenvolvimento da burguesia, com a liberdade do comércio e o mercado mundial, com a uniformidade da produção industrial e as condições de existência que lhes correspondem.
A supremacia do proletariado fará com que tais demarcações e antagonismos desapareçam ainda mais depressa. A ação comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação. Suprimi a exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a exploração de uma nação por outra. Quando os antagonismos de classes, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações. Quanto as acusações feitas aos comunistas em nome da religião, da filosofia e da ideologia em geral, não merecem um exame aprofundado.
Será preciso grande perspicácia para compreender que as idéias, as noções e as concepções, numa palavra, que a consciência do homem se modifica com toda mudança sobrevinda em suas condições de vida, em suas relações sociais, em sua existência social? Que demonstra a história das idéias senão que a produção intelectual se transforma com a produção material? As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante.
Quando se fala de idéias que revolucionam uma sociedade inteira, isto quer dizer que, no seio da velha sociedade, formaram-se os elementos de uma nova sociedade e que a dissolução das velhas idéias marcha junto à dissolução das antigas condições de vida.
Quando o mundo antigo declinava, as velhas religiões foram vencidas pela religião cristã; quando, no século XVIII, as idéias cristãs cederam lugar às idéias racionalistas, a sociedade feudal travava sua batalha decisiva contra a burguesia então revolucionária. As idéias de liberdade religiosa e de liberdade de consciência não fizeram mais que proclamar o império da livre concorrência no domínio do conhecimento.
Sem dúvida - dir-se-á - as idéias religiosas, morais, filosóficas, políticas, jurídicas etc., modificaram-se no curso do desenvolvimento histórico, mas a religião, a moral, a filosofia, a política, o direito mantiveram-se sempre através dessas transformações. Além disso, há verdades eternas, como a liberdade, a justiça etc., que são comuns a todos os regimes sociais. Mas o comunismo quer abolir estas verdades eternas, quer abolir a religião e a, moral, em lugar de lhes. dar uma nova forma e isso contradiz todo o desenvolvimento histórico anterior. A que se reduz essa acusação? A história de toda a sociedade até nossos dias consiste no desenvolvimento dos antagonismos de classes, antagonismos que se têm revestido de formas diferentes nas diferentes épocas.
Mas qualquer que tenha sido a forma desses antagonismos, a exploração de uma parte da sociedade por outra é um fato comum a todos os séculos anteriores. Portanto, nada há de espantoso que a. consciência social de todos os - séculos, apesar de toda sua variedade e diversidade, se tenha movido sempre sob certas formas comuns - formas de consciência - que só se dissolverão completamente com o desaparecimento total dos antagonismos de classes.
A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais de propriedade; nada de estranho, portanto, que no curso de seu desenvolvimento, rompa, do modo mais radical, com as idéias tradicionais. Mas deixemos de lado as objeções feitas pela burguesia ao comunismo. Vimos acima que a primeira fase da revolução operária é o advento do proletariado como classe dominante, a conquista da democracia.
O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas.
Isto naturalmente só poderá realizar-se, em princípio, por uma violação despótica do direito de propriedade e das relações de produção burguesas, isto é, pela aplicação de medidas que, do ponto de vista econômico, parecerão insuficientes e insustentáveis, mas que no desenrolar do movimento ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente todo o modo de produção. Essas medidas, é claro, serão diferentes nos vários países. Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas:
1. Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado;
2. Imposto fortemente progressivo;
3. Abolição do direito de herança;
4. Confiscação da propriedade de todos os emigrados e sediciosos;
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo;
6. Centralizarão, nas mãos do Estado, de todos os meios de transporte;
7. Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral;
8. Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura;
9. Combinação do trabalho agrícola e industrial, medidas tendentes a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o campo;
l0. Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material etc.
Uma vez desaparecidos os antagonismos de classes no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente falando nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perderá seu caráter político. O poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra. Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se constitui forçosamente em classe; se converte-se, por uma revolução, em classe dominante e, como classe dominante, destrói violentamente as antigas relações de produção, destrói juntamente com essas relações de produção, as condições dos antagonismos entre as classes e as classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe.
Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classes, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos.
 

PARTE 3 - LITERATURA SOCIALISTA E COMUNISTA

1 - socialismo reacionário
a) O socialismo feudal - Devido à sua posição histórica, as aristocracias da França e da Inglaterra viram-se chamadas a lançar libelos contra a sociedade burguesa. Na revolução francesa de julho de 1830 e no movimento reformador inglês, tinham sucumbido mais uma vez sob os golpes desta odiada arrivista. Elas não podiam mais travar uma luta política séria, só restava a luta literária. Ora, também no domínio literário, tornara-se impossível a velha fraseologia da Restauração.
Para criar simpatias, era preciso que a aristocracia fingisse discursar seus próprios interesses e dirigisse sua acusação contra a burguesia, aparentando defender apenas os interesses da classe operária explorada. Desse modo, entregou-se ao prazer de cantarolar sátiras sobre os novos senhores e de segredar-lhe ao ouvido profecias de mau augúrio.
Assim nasceu o socialismo feudal, onde se mesclavam lamúrias e libelos, ecos do passado e ameaças sobre o futuro. Se por vezes a sua crítica amarga, mordaz e espirituosa feriu a burguesia, no coração, sua impotência absoluta de compreender a marcha da História moderna terminou sempre por um efeito cômico. À guisa de bandeira, estes senhores arvoraram a sacola do mendigo, a fim de atrair o povo, mas logo que este acorreu, notou suas costas ornadas com os velhos brasões feudais e dispersou-se com grandes gargalhadas irreverentes.
Uma parte dos legitimistas franceses e a "Jovem Inglaterra" ofereceram ao mundo esse espetáculo divertido. Quando os campeões do feudalismo demonstraram que o modo de exploração feudal era diferente do da burguesia, esquecem uma coisa: que o feudalismo explorava em circunstâncias e condições completamente diversas e hoje em dia caducas. Quando ressaltam que sob o regime feudal o proletariado moderno não existia, esquecem que a burguesia moderna é precisamente um fruto necessário de seu regime social.
Alias, ocultam tão pouco o caráter. reacionário de sua critica, que sua principal queixa contra a burguesia consiste justamente em dizer que esta assegura que o seu regime o desenvolvimento de uma classe que fará ir pelos ares toda a antiga ordem social. O que mais reprovam à burguesia é esta ter produzido um proletariado revolucionário, que o haver criado o proletariado em geral. Por isso, na luta política participam ativamente de todas as medidas de repressão contra a classe operária. E, na vida diária, a despeito de sua pomposa fraseologia, conformam-se perfeitamente em colher os frutos de ouro da árvore da indústria e trocar honra, amor e fidelidade pelo comércio de lã, açúcar de beterraba e aguardente.
Do mesmo modo que o pároco e o senhor feudal marcharam sempre de mãos dadas, o socialismo clerical marcha lado a lado com o socialismo feudal. Nada é mais fácil que recobrir o ascetismo cristão com um verniz socialista. Não se ergueu também o cristianismo contra a propriedade privada, o matrimônio, o Estado? E em seu lugar não predicou a caridade e a pobreza, o celibato e a mortificação a carne, a vida monástica e a igreja? O socialismo cristão não passa de água benta com que o padre consagra ó desperto da aristocracia.
b) O socialismo pequeno-burguês - Não é a aristocracia feudal a única classe arruinada pela burguesia, não é a única classe cujas condições de existência se enfraquecem e perecem na sociedade burguesa moderna. Os pequenos burgueses e os pequenos camponeses da Idade Média foram os precursores da burguesia moderna. Nos países onde o comércio e a indústria são pouco desenvolvidos, esta classe continua a vegetar ao lado da burguesia em ascensão.
Nos países onde a civilização moderna está florescente, forma-se uma nova classe de pequenos burgueses, que oscila entre o proletariado e a burguesia; fração complementar da sociedade burguesa, ela se reconstitui incessantemente. Mas os indivíduos que a compõem se vêem constantemente precipitados no proletariado, devido à concorrência; e, com a marcha progressiva da grande indústria, sentem aproximar-se o momento em que desaparecerão completamente como fração independente da sociedade moderna e em que serão substituídos no comércio, na manufatura, na agricultura, por capatazes e empregados.
Nos países como a França, onde os camponeses constituem bem mais da metade da população, é natural que os escritores que se batiam pelo proletariado contra a burguesia, aplicassem à sua crítica do regime burguês critérios pequeno-burgueses e camponeses e defendessem a causa operária do ponto de vista da pequena burguesia. Desse modo se formou o socialismo pequeno-burguês. Sismondi é o chefe dessa literatura, não somente na França, mas também na Inglaterra.
Esse socialismo analisou com muita penetração as contradições inerentes às relações de produção modernas. Pôs a nu as hipócritas apologias dos economistas. Demonstrou de um modo irrefutável os efeitos mortíferos das máquinas e da divisão do trabalho, a concentração dos capitais e da propriedade territorial, a superprodução, as crises, a decadência inevitável dos pequenos burgueses e camponeses, a miséria do proletariado, a anarquia na produção, a clamorosa desproporção na distribuição das riquezas, a guerra industrial de extermínio entre as nações, a dissolução dos velhos costumes, das velhas relações de família, das velhas nacionalidades.
Todavia, a finalidade real desse socialismo pequeno-burguês é ou restabelecer os antigos meios de produção e de troca e, com eles, as antigas relações de propriedade e toda a sociedade antiga, ou então fazer entrar à força os meios modernos de produção e de troca no quadro estreito das antigas relações de propriedade que forram destruídas e necessariamente despedaçadas por eles. Num e noutro caso, esse socialismo é ao mesmo tempo reacionário e utópico. Para a manufatura, o regime corporativo; para a agricultura, o regime patriarcal: eis a sua última palavra. Por fim, quando os obstinados fatos históricos lhe fizeram passar completamente a embriaguez, essa escola socialista abandonou-se a uma verdadeira prostração de espírito.
c) O socialismo alemão ou o "verdadeiro" socialismo - A literatura socialista e comunista da França, nascida sob a pressão de uma burguesia dominante, expressão literária da revolta contra esse domínio, foi introduzida na Alemanha quando a burguesia começava a sua luta contra o absolutismo feudal. Filósofos, semifilósofos e impostores alemães lançara-se avidamente sobre essa literatura, mas esqueceram que, com a importação da literatura francesa na Alemanha, não eram importadas ao mesmo tempo as condições sociais da França. Nas condições alemãs, a literatura francesa perdeu toda significação prática imediata e tomou um caráter puramente literário. Aparecia apenas como especulação ociosa sobre a realização da natureza humana. Por isso, as reivindicações da primeira revolução francesa só eram, para os filósofos alemães do século XVIII, as reivindicações da "razão prática" em geral; e a manifestação da vontade dos burgueses revolucionários da França não expressava a seus olhos, senão as leis da vontade pura, da vontade tal como deve ser, da vontade verdadeiramente humana.
O trabalho dos literatos alemães limitou-se a colocar as idéias francesas em harmonia com a sua velha consciência filosófica ou, antes a apropriar-se das idéias francesas sem abandonar seu próprio ponto de vista filosófico. Apropriaram-se delas como se assimila uma língua estrangeira: pela tradução. Sabe-se que os monges recobriam os manuscritos das obras clássicas da antigüidade pagã com absurdas lendas sobre santos católicos. Os literatos alemães agiram em sentido inverso a respeito da literatura francesa profana. Introduziram suas insanidades filosóficas no original francês. Por exemplo, sob a crítica francesa das funções do dinheiro, escreveram da "alienação humana"; sob a crítica francesa do Estado burguês, escreveram "alienação do poder da universidade abstrata" e assim por diante. A esta interpolação da fraseologia filosófica nas teorias francesas deram o nome de "filosofia da ação", "verdadeiro socialismo", "ciência alemã do socialismo", "justificação filosófica do socialismo", etc.
Desse modo, emascularam completamente a literatura socialista e comunista francesa. E como nas mãos dos alemães essa literatura deixou de ser a expressão da luta de uma classe contra outra, eles se felicitaram por ter-se elevado acima da "estreiteza francesa" e ter defendido não verdadeiras necessidades, mas a "necessidade do verdadeiro"; não os interesses do proletário, mas os interesses do ser humano, do homem em geral, do homem que não pertence a nenhuma classe nem a realidade alguma e que só existe no céu brumoso da fantasia filosófica. Esse socialismo alemão que tão solenemente levava a sério seus desajeitados exercícios de escolar e que os apregoava tão charlatanescamente, perdeu, não obstante, pouco a pouco, se inocente pedantismo.
A luta da burguesia alemã e especialmente da burguesia prussiana contra os feudais e a monarquia absoluta, numa palavra, o movimento liberal, tornou-se mais sério. Desse modo, apresentou-se ao "verdadeiro" socialismo a tão desejada oportunidade de contrapor ao movimento político as reivindicações socialistas. Pôde lançar os anátemas tradicionais contra o liberalismo, o regime representativo, a concorrência burguesa, a liberdade burguesa de imprensa, o direito burguês, a liberdade e a igualdade burguesa; pôde pregar às massas que nada tinham a ganhar, mas, pelo contrário, tudo a perder nesse movimento burguês. O socialismo alemão esqueceu, muito a propósito, que a crítica francesa, da qual era o eco monótono, pressupunha a sociedade burguesa moderna com as condições materiais de existência que lhe correspondem a uma constituição política adequada - precisamente as coisas que, na Alemanha, se tratavam ainda de conquistar.
Para os governos absolutos da Alemanha, com seu cortejo de padres, pedagogos, fidalgos rurais e burocratas, esse socialismo converteu-se em espantalho para a amedrontar a burguesia que se erguia ameaçadora. Juntou sua hipocrisia adocicada aos tiros e às chicotadas com que esses mesmos governos respondiam aos levantes dos operários alemães.
Se o "verdadeiro" socialismo se tornou assim uma arma nas mãos dos governos contra a burguesia alemã, representava, além disso, diretamente um interesse reacionário, o interesse da pequena burguesia alemã. A classe dos pequenos burgueses, legada pelo século XVI e desde então renascendo sem cessar sob formas diversas, constitui na Alemanha a verdadeira base social do regime estabelecido.
Mantê-la é manter na Alemanha o regime estabelecido. A supremacia industrial e política da burguesia ameaça a pequena burguesia de destruição certa, de um lado, pela concentração dos capitais, de outro pelo desenvolvimento de um proletariado evolucionário. O "verdadeiro" socialismo pareceu aos pequenos burgueses uma arma capaz de aniquilar esses dois inimigos. Propagou-se como uma epidemia. A roupagem tecida com os fios imateriais da especulação, bordada com as flores da retórica e banhada de orvalho sentimental, essa roupagem na qual os socialistas alemães envolveram o miserável esqueleto das suas "verdades eternas", não fez senão ativar a venda de sua mercadoria entre tal público.
Por outro lado, o socialismo alemão compreendeu cada vez mais que sua vocação era ser o representante grandiloqüente dessa pequena burguesia. Proclamou que a nação alemã era a nação modelo e o burguês alemão, o homem modelo. A todas as infâmias desse homem modelo deu um sentido oculto, um sentido superior e socialista, contrário à realidade. Foi conseqüente até o fim, levantando-se contra a tendência "brutalmente destruidora" do comunismo, declarando que pairava imparcialmente acima de todas as lutas de classes. Com poucas exceções, todas as pretensas publicações socialistas ou comunistas, que circulam na Alemanha pertencem a esta imunda e enervante literatura.
2 - O socialismo conservador ou burguês
Uma parte da burguesia procura remediar os males sociais com o fim de consolidar a sociedade burguesa. Nessa categoria enfileira-se os economistas, os filantropos, os humanitários, os que se ocupam em melhorar a sorte da classe operária, os organizadores de beneficências, os protetores dos animais, os fundadores das sociedades de temperança, enfim os reformadores de gabinete de toda categoria. Chegou-se até a elaborar esse socialismo burguês em sistemas completos.Como exemplo, citemos a Filosofia da Miséria, de Proudhon.
Os socialistas burgueses querem as condições devida da sociedade moderna sem as lutas e os perigos que dela decorrem fatalmente. Querem a sociedade atual, mas eliminando os elementos que a revolucionam e a dissolvem. Querem a burguesia sem o proletariado. Como é natural, a burguesia concebe o mundo em que domina como o melhor dos mundos. O socialismo burguês elabora em um sistema mais ou menos completo essa concepção consoladora. Quando convida o proletariado a realizar esses sistemas e entrar na nova Jerusalém, no fundo o que pretende é introduzi-lo a manter-se na sociedade atual, desembaraçando-se, porém, do ódio que ele nutre contra ela.
Uma outra forma desse socialismo, menos sistemática, porém mais prática, procura fazer com que os operários se afastem de qualquer movimento revolucionário, demonstrando-lhes que não será tal ou qual mudança política, mas somente uma transformação das condições de vida material e das relações econômicas, que poderá ser proveitosa para eles. Mas por transformação das condições de vida material, esse socialismo não compreende em absoluto a abolição das relações burguesas de produção - o que só é possível por via revolucionária - mas, apenas reformas administrativas realizadas sobre a base das próprias relações de produção entre o capital e o trabalho assalariado, servindo, no melhor dos casos, para diminuir os gastos da burguesia com seu domínio e simplificar o trabalho administrativo de seu Estado.
O socialismo burguês só atinge uma expressão adequada quando se torna uma simples figura de retórica. Livre câmbio, no interesse da classe operária! Tarifas protetoras, no interesse da classe operária! Prisões celulares, no interesse da classe operária! Eis suas últimas palavras, as únicas pronunciadas seriamente pelo socialismo burguês. Ele se resume nesta frase: os burgueses são burgueses no interesse da classe operária.
3 - O socialismo e o comunismo crítico-utópicos
Não se trata aqui da literatura que, em todas as grandes revoluções modernas, formulou as reivindicações do proletariado (escritos de Babeuf, etc...). As primeiras tentativas diretas do proletariado para fazer prevalecer seus próprios interesses de classe, feitas numa época de efervescência geral, no período da derrubada da sociedade feudal, fracassaram necessariamente não só por causa do estado embrionário do próprio proletariado, como devido à ausência das condições materiais de sua emancipação, condições que apenas surgem como produto do advento da época burguesa. A literatura revolucionária que acompanhava esses primeiros movimentos do proletariado teve forçosamente um conteúdo reacionário. Preconizava um ascetismo geral e um grosseiro igualitarismo.
Os sistemas socialistas e comunistas propriamente ditos, os de Saint-Simon, Fourier, Owen etc., aparecem no primeiro período da luta entre o proletariado e a burguesia período acima descrito (Ver o cap. Burgueses e Proletários). Os fundadores desses sistemas compreendem bem o antagonismo das classes, assim como a ação dos elementos dissolventes na própria sociedade e dominante. Mas não percebem no proletariado nenhuma iniciativa histórica, nenhum movimento político que lhe seja próprio. Como o desenvolvimento dos antagonismos de classes marcha ao lado do desenvolvimento da indústria, não distinguem tampouco as condições materiais da emancipação do proletariado e põem-se à procura de uma ciência social, de leis sociais, que permitam criar essas condições.
A atividade social substituem sua própria imaginação pessoal; às condições históricas da emancipação, condições fantasistas; à organização gradual e espontânea do proletariado em classe, uma organização da sociedade pré-fabricada por eles. A história futura do mundo se resume, para eles, na propaganda e na prática de seus planos de organização social. Todavia, na confecção de seus planos, têm a convicção de defender antes de tudo os interesses da classe operária, porque é a classe mais sofredora. A classe operária só existe para eles sob esse aspecto de classe mais sofredora.
Mas, a forma rudimentar da luta de classe e sua própria posição social os levam a considerar-se bem acima de qualquer antagonismo de classes. Desejam melhorar as condições materiais de vida para todos os membros da sociedade, mesmo dos mais privilegiados. Por conseguinte, não cessam de apelar indistintamente para a sociedade inteira e mesmo se dirigem de preferência à classe dominante. Pois, na verdade, basta compreender seu sistema para reconhecer que é o melhor dos planos possíveis para a melhor das sociedades possíveis.
Repelem, portanto, toda ação política e, sobretudo, toda ação revolucionária, procuram atingir seu fim por meios pacíficos e tentam abrir um caminho ao novo evangelho social pela força do exemplo, por experiências em pequena escala que, naturalmente, sempre fracassam. A descrição fantasista da sociedade futura, feita numa época em que o proletariado, pouco desenvolvido ainda, encara sua própria posição de um modo fantasista, corresponde as primeiras aspirações instintivas dos operários e uma completa transformação da sociedade.
Mas essas obras socialistas e comunistas encerram também elementos críticos. Atacam a sociedade existente em suas bases. Por conseguinte, forneceram em seu tempo materiais de grande valor para esclarecer os operários. Suas propostas positivas relativas à sociedade futura, tais como a supressão da distinção entre a cidade e o campo, a abolição da família, do lucro privado e do trabalho assalariado, a proclamação da harmonia social e a transformação do Estado numa simples administração da produção, todas essas propostas apenas anunciam o desaparecimento do antagonismo entre as classes, antagonismo que mal começa e que esses autores somente conhecem em suas formas imprecisas. Assim, essas propostas têm um sentimento puramente utópicos.
A importância do socialismo e do comunismo crítico-utópico está na razão inversa do desenvolvimento histórico. À medida que a luta de classes se acentua e toma formas mais definidas, o fantástico afã de abstrair-se dela, essa fantástica oposição que se lhe faz, perde qualquer valor prático, qualquer justificação teórica. Eis porque, se, em muitos aspectos, os fundadores desses sistemas eram revolucionários, as seitas formadas por seus discípulos são sempre reacionárias, pois se aferram às velhas concepções de seus mestres apesar do ulterior desenvolvimento histórico do proletariado. Procuram, portanto, e nisto são conseqüentes, atenuar a luta de classes e conciliar os antagonismos. Continuam a sonhar com a realização experimental de suas utopias sociais: estabelecimento de falanstérios isolados, criação de colônias no interior, fundação de uma pequena Icária, edição in 12 da nova Jerusalém, e para dar realidade a todos esses castelos no ar, vêem-se obrigados a apelar para os bons sentimentos e os cofres de filantropos burgueses.
Pouco a pouco, caem na categoria dos socialistas reacionários ou conservadores descritos acima e só se distinguem deles por um pedantismo mais sistemático e uma fé supersticiosa e fanática na eficácia miraculosa de sua ciência social. Opõem-se, pois, encarniçadamente a qualquer ação política da classe operária, porque, em sua opinião, tal ação só pode provir de uma cega falta de fé no novo evangelho. Desse modo, os owenistas, na Inglaterra e os fourieristas, na França, reagem respectivamente contra os cartista e os reformistas.


PARTE 4 - POSIÇÃO DOS COMUNISTAS DIANTE DOS DIVERSOS PARTIDOS DE OPOSIÇÃO
O que já dissemos no capitulo 11 basta para determinar a posição dos comunistas diante dos partidos operários já constituídos e, por conseguinte, sua posição diante dos cartistas na Inglaterra e dos reformadores agrários na América do Norte.
Os comunistas combatem pelos interesses e objetivos imediatos da classe operária, mas, ao mesmo tempo, defendem e representam no movimento atual, o futuro do movimento. Aliam-se na França ao partido democrata-socialista, contra a burguesia conservadora e radical, reservando-se o direito de criticar as frases e as ilusões legadas pela tradição revolucionária. Na Suíça, apoiam os radicais, sem esquecer que esse partido se compõe de elementos contraditórios, metade democratas-socialistas, na acepção francesa da palavra, metade burgueses radicais. Na Polônia, os comunistas apoiam o partido que vê numa revolução agrária a condição da libertação nacional, isto é, o partido que desencadeou a insurreição de Cracóvia em 1846.
Na Alemanha, o Partido Comunista luta de acordo com a burguesia, todas as vezes que esta age revolucionariamente: contra a monarquia absoluta, a propriedade rural feudal e a pequena burguesia reacionária. Mas nunca, em nenhum momento, esse Partido se descuida de despertar nos operários uma consciência clara e nítida do violento antagonismo que existe entre a burguesia e o proletariado, para que, na hora precisa, os operários alemães saibam converter as condições sociais e políticas, criadas pelo regime burguês, em outras tantas armas contra a burguesia, a fim de que, uma vez destruídas as classes reacionárias da Alemanha, possa ser travada a luta contra a própria burguesia.
E para a Alemanha, sobretudo, que se volta a atenção dos comunistas, porque a Alemanha se encontra nas vésperas de uma revolução burguesa, e porque realizará essa revolução nas condições mais avançadas da civilização européia e com um proletariado infinitamente mais desenvolvido que o da Inglaterra no século XVII e o da França no século XVIII. A revolução burguesa alemã, por conseguinte, só poderá ser o prelúdio imediato de uma revolução proletária.Em resumo, os comunistas apoiam em toda parte qualquer movimento revolucionário contra o estado de coisa social e político existente.
Em todos estes movimentos, põem em primeiro lugar, como questão fundamental, a questão da propriedade, qualquer que seja a forma, mais ou menos desenvolvida, de que esta se revista.Finalmente, os comunistas trabalham pela união e entendimento dos partidos democráticos de todos os países.
Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que as classes dominantes tremam à idéia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder a não ser suas algemas. Têm um mundo a ganhar. PROLETÁRIOS DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!
(MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, Manifesto do Partido Comunista - 1848)  


Carlos Maia
Secretario de Agitação e Propaganda
do Partido Comunista do Brasil/ Curitiba-Pr